domingo, 21 de fevereiro de 2010

Doçura de Estar Só...
















Doçura de estar só quando a alma torce as mãos!

— Oh! doçura que tu, Silêncio, unicamente

sabes dar a quem sonha e sofre em ser o Ausente,

ao lento perpassar destes instantes vãos!



Doçura de estar só quando alguém pensa em nós!

De amar e de evocar, pelo esplendor secreto

e pálido de uma hora em que ao Seu lábio inquieto

floresce, como um lírio estranho, a Sua voz!



E os lustres de cristal! E as teclas de marfim!

E os candelabros que, olvidados, se apagaram

E a saudade, acordando as vozes que calaram!

Doçura de estar só quando finda o festim!



Doçura de estar só, calado e sem ninguém!

Dolência de um murmúrio em flor que a sombra exala,

sob o fulgor da noite aureolada de opala

que uma urna de astros de ouro ao seio azul sustém!



Doçura de estar sós Silêncio e solidão!

Ó fantasma que vens do sonho e do abandono,

dá-me que eu durma ao pé de ti do mesmo sono!

Fecha entre as tuas mãos as minhas mãos de irmão!


Eduardo Guimarães

(A Divina Quimera, 1916)

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