Aos domingos as ruas estão desertas e parecem mais largas. Ausentaram-se os homens à procura de outros novos cansaços que os descansem. Seu livre arbítrio alegremente os força a fazerem o mesmo que fizeram os outros que foram fazer o que eles fazem. E assim as ruas ficaram mais largas, o ar mais limpo, o sol mais descoberto. Ficaram os bêbados com mais espaço para trocarem as pernas e espetarem o ventre e alargarem os braços no amplexo de amor que só eles conhecem. O olhar aberto às largas perspectivas difunde-se e trespassa os sucessivos, transparentes planos. Um cão vadio sem pressas e sem medos fareja o contentor tombado no passeio. É domingo. E aos domingos as árvores crescem na cidade, e os pássaros, julgando-se no campo, desfazem-se a cantar empoleirados nelas. Tudo volta ao princípio. E ao princípio o lixo do contentor cheira ao estrume das vacas e o asfalto da rua corre sem sobressaltos por entre as pedras levando consigo a imagem das flores amarelas do tojo, enquanto o transeunte, no deslumbramento do encontro inesperado, eleva a mão e acena para o passeio fronteiro onde não vai ninguém.
Antônio Gedeão
Era um domingo tépido, Sem apetrechos nem delongas, Mas o sol, ah, o sol, O sol se fez presente E todos abriram janelas.
Antonio Cabral Filho
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
A divagação é o domingo do pensamento. Henri Amiel
sábado, 2 de março de 2013
Reluto em ir dormir nas madrugadas de domingo para segunda... Parece que vou matar o personagem feliz que criei durante o final de semana... Marcelo Soriano
A parte mais bonita do domingo é a silenciosa manhã. Adriano Soares
Manhã de domingo: apassarinhei-me... Alegria é brincar nas poças de sol. M. M. Soriano
Domingo... Os sinos repicam Na igreja, constantemente, E todas as ruas ficam Alegres, cheias de gente.
Todo um dia de ventura... Como o domingo seduz! O homem, cansado, procura Ter paz, ter ar, e ter luz.
Paradas e sem trabalho, Dormem na roça as enxadas; Dormem a bigorna e o malho Nas oficinas fechadas.
Também, meninos cansados, Os vossos livros deixai! Deixai lições e ditados! Dormi! Sorri! Cantai!
Fechem-se as aulas! e o bando Ruidoso das criancinhas Livre se espalhe, voando, Como um bando de andorinhas!
Deus, quando o mundo fazia, Sete dias trabalhou, E ao fim do sétimo dia Do trabalho descansou... Olavo Bilac
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Alguns guardam o Domingo indo à igreja Eu o guardo ficando em casa Tendo um sabiá como cantor E um pomar por santuário. Alguns guardam o Domingo em vestes brancas Mas eu só uso minhas asas E ao invés do repicar dos sinos na igreja nosso pássaro canta na palmeira. É Deus que está pregando, pregador admirável E o seu sermão é sempre curto. Assim, ao invés de chegar ao Céu, só no final eu o encontro o tempo todo no quintal.
Emily Dickinson tradução de Manuel Bandeira
domingo, 30 de setembro de 2012
"Desejo a você: '...Namoro no portão, Domingo sem chuva, Segunda sem mau humor, Sábado com seu amor..." Carlos Drummond de Andrade
Nenhum desejo neste domingo nenhum problema nesta vida o mundo parou de repente os homens ficaram calados domingo sem fim nem começo.
A mão que escreve este poema não sabe o que está escrevendo mas é possível que se soubesse nem ligasse.
Carlos Drummond de Andrade
domingo, 15 de janeiro de 2012
Dizem que a gente tem o que precisa. Não o que a gente quer. Tudo bem. Eu não preciso de muito. Eu não quero muito. Eu quero mais. Mais paz. Mais saúde.Mais dinheiro. Mais poesia. Mais verdade. Mais harmonia. Mais noites bem dormidas. Mais noites em claro. Mais eu. Mais você. Mais sorrisos, beijos e aquela rima grudada na boca. Eu quero nós. Mais nós. Grudados. Enrolados. Amarrados. Jogados no tapete da sala. Nós que não atam nem desatam. Eu quero pouco e quero mais. Quero você. Quero eu. Quero domingos de manhã. Quero cama desarrumada, lençol, café e travesseiro. Quero seu beijo. Quero seu cheiro. Quero aquele olhar que não cansa, o desejo que escorre pela boca e o minuto no segundo seguinte: nada é muito quando é demais. Caio F. Abreu
sábado, 24 de dezembro de 2011
Segunda-feira é mais difícil porque é sempre a tentativa do começo de vida nova. Façamos cada domingo de noite um reveillon modesto, pois se meia noite de domingo não é começo de Ano Novo é começo de semana nova, o que significa fazer planos e fabricar sonhos. Clarice Lispector
sábado, 30 de abril de 2011
Amanhã... É domingo. E aos domingos as árvores crescem na cidade, e os pássaros, julgando-se no campo, desfazem-se a cantar empoleirados nelas. Tudo volta ao princípio.
"Pedro é um nome que a gente conhece em muitas línguas: Pedro, Pierre, Pietro, Peter, Pether, Petrus. Pedro pintou, um dia, em alguma parte do mundo, o retrato de uma borboleta. O papel tinha o tamanho de sua intenção. As cores, as de seu desejo. Pintou ainda, sobre o papel, flores para a borboleta se esconder e galhos para descansar. É mesmo fácil imaginar sua pintura ou faze-la, mas a conseqüência não foi tão simples. É melhor saber toda a história. Pierre acordou com o coração cheio de domingo. Domingo é dia em que a gente não quer nada e por isso acontece quase tudo. Não era domingo, mas ele se sentia em paz com o mundo. Nesse dia ele viu o vôo de uma borboleta (vôo de borboleta pode transformar qualquer dia em domingo)."
O domingo era uma coisa pequena. Uma coisa tão pequena que cabia inteirinha nos teus olhos. Nas tuas mãos estavam os montes e os rios e as nuvens. Mas as rosas, as rosas estavam na tua boca.
Hoje os montes e os rios e as nuvens não vêm nas tuas mãos. (Se ao menos elas viessem sem montes e sem nuvens e sem rios ...) O domingo está apenas nos meus olhos e é grande. Os montes estão distantes e ocultam os rios e as nuvens e as rosas.