sábado, 30 de junho de 2012
Sinos
quando estava só
nos meus vastos campos
de machucadas orquídeas
e silêncio
e à noite bebia em taças opacas
estrelas líquidas e passado
e o vento do deserto
me alcançava trazendo
o rumor dos mortos
você chegou
com vassoura de luz
varreu a casa e limpou os sinos
Roseana Murray
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Elfos
Elfos comem o perfume
das flores trazido pelo
vento,
comem os mais belos
pensamentos,
e as cores do dia
que o galo faz.
Comem o canto do galo,
as melodias dos pássaros
azuis,
comem a luz que cintila
na folha cheia de orvalho.
Elfos comem a sombra da lua,
o brilho da estrela
que já não existe mais.
Roseana Murray
Órion
A primeira namorada, tão alta
Que o beijo não alcançava,
O pescoço não alcançava,
Nem mesmo a voz o alcançava.
Eram quilômetros de silêncio.
Luzia na janela do sobradão.
Carlos Drummond de Andrade
quinta-feira, 28 de junho de 2012
terça-feira, 26 de junho de 2012
Dia das namoradas
Agora que passou o Dia dos Namorados, vamos pensar no dia das namoradas. Quando o caso é de amor, um dia é pouco para elas. Pouco para abrigar a responsabilidade de ter um amor. Senhores, é necessário uma reserva de tempo para cuidar direito de uma namorada. Não se consegue acumular em apenas um dia a carga de cuidados que alimenta a pilha do amor. Porque a pilha está sempre ligada, o amor é voraz consumidor de energia. Sem um sistema contínuo de recarga ele não anda, fica sem luz, não manda mensagens.
Não há Facebook que dê conta de um amor. Mandem mensagens, torpedos, e-mails, falem com ela, tentem telepatia quando não houver sinal, comprem um satélite — mas não deixem de falar com ela no dia das namoradas. Quando o caso é mesmo de amor, 364 dias bastam. Não se esqueçam, senhores, dos anos bissextos! De quatro em quatro anos, carreguem a pilha para mais um dia. Como proceder no Dia dos Namorados? Que dividam o prato, o vinho, o chocolate, o beijo, em comemoração de mão dupla: um dando ao outro o que recebe, com o maior prazer.
Porém, se a namorada insistir, como é hábito delas nesse dia especial, capitulem, senhores, cedam a ela o comando, deixem-se ficar no sofá, gostosões, inundados de beijos. Mas compensem nos 364 dias dela. Não há presente melhor nos 364 dias das namoradas do que dar-se. Deem-se. O dar-se, senhores, não elimina a graça de um presentinho. Cada encontro merece um. Quando se é casado com a namorada e o encontro é diário, a graça fica uma graça se for diária.
É só um recado: me lembrei de você. Pode ser uma flor, e basta uma, um vidrinho de esmalte, um brigadeiro, uma aposta mínima na Mega-Sena com sua dose de sonhos fugazes, um bombom, um DVD pirata, uma revista, uma calcinha de liquidação, uma presilha de cabelo, um par de meias soquete, um sabonete gostoso, uma caixinha de clipes coloridos, um carro zero, qualquer coisa que dê seu recado.
Se o caso é realmente de amor, o gasto de energia é pena branda aos olhos do condenado. Sim, quantos neurônios em confusão, quantas lições atrapalhadas, quanto trabalho refeito, quanta desatenção nas conversas, cenas perdidas no cinema, poemas recomeçados, atrasos — mas, ah, quantas compensações oferece a namorada.
Nesses 364 dias das namoradas, se de fato houver amor, e quanto a isso não pode haver dúvidas, há que polir a pedra das relações, preciosa! gastar o ralador em que os apaixonados se ralam e se ferem, abrandar as paixões até surgir o amor na superfície agora lisinha, boa de encostar e de passar a mão. Isso se faz dividindo em mínimas pílulas diárias a irritação que possa haver de alguma cobrança, porque as namoradas são boas nisso, a irritação de alguma recusa, porque as namoradas têm vida própria, ou de discordâncias, porque as namoradas têm opiniões.
Insisto: em caso de amor, senhores, não hesitem em comunicar-se ao menor sinal de saudade. Telefonem, que é dia dela. Acordem a namorada, acordem a casa, o sogro, o cachorro, mas telefonem e digam: eu te amo, ou coisa mais simples: sabe, né nada não, estou ligando porque bateu uma saudade.
Ivan Angelo
Caixinha mágica
Fabrico uma caixa mágica
para guardar o que não cabe
em nenhum lugar:
a minha sombra
em dias de muito sol,
o amarelo que sobra
do girassol,
um suspiro de beija-flor,
invisíveis lágrimas de amor.
Fabrico a caixa com vento,
palavras e desequilíbrio,
e para fechá-la
com tudo o que leva dentro,
basta uma gota de tempo.
O que é que você quer
esconder na minha caixa?
Roseana Murray
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segunda-feira, 25 de junho de 2012
“A consciência de uma planta no meio do inverno não está voltada para o verão que passou, mas para a primavera que irá chegar. A planta não pensa nos dias que já foram, mas nos que virão. Se as plantas estão certas de que a primavera virá, por que nós – os humanos – não acreditamos que um dia seremos capazes de atingir tudo o que queríamos?”
Khalil Gibran
Levanta-te,querida minha,formosa minha e vem.porque eis que passou o inverno,cessou a chuva e se foi;aparecem as flores na terra,chegou o tempo de cantarem as aves e a voz da rola ouve-se em nossa terra.A figueira começou a dar seus figos,e as vides em flor exalam o teu aroma;levanta-te,querida minha,formosa minha,e vem.Pomba minha que andas pelas fendas dos penhascos,no esconderijo das rochas escarpadas,mostra-me o rosto,faze-me ouvir a tua voz,porque a tua voz é doce,e o teu rosto,amável.(Ct2.10-14)
Salomão
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domingo, 24 de junho de 2012
A beleza é uma forma da genialidade, aliás, é superior à genialidade na medida em que não precisa de comentário. Ela é um dos grandes fatos do mundo, assim como a luz do Sol, ou a primavera, ou a miragem na água escura daquela concha de prata que chamamos de lua. Não pode ser interrogada, é soberana por direito divino.
Oscar Wilde
sábado, 23 de junho de 2012
sexta-feira, 22 de junho de 2012
quarta-feira, 20 de junho de 2012
terça-feira, 19 de junho de 2012
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