segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Barcos é que somos
A teu lado viajo.
Contigo navego.
Remos são palavras
que te digo e escrevo.
Âncoras de ternura
com elas compomos
e mastros de espuma.
Barcos é que somos.
Albano Martins
sábado, 28 de novembro de 2009
Silêncio amoroso
Deixa que eu te ame em silêncio
Não pergunte, não se explique, deixe
que nossas línguas se toquem, e as bocas e a pele
falem seus líquidos desejos.
Deixa que eu te ame sem palavras
a não ser aquelas que na lembrança ficarão
pulsando para sempre
como se o amor e a vida
fosse um discurso
de impronunciáveis emoções.
Affonso R.de Sant'Anna
TEMPUS FUGIT (O AMOR É UM JARDIM)
O amor não sabe a papéis,
a tolas permutas
o amor se lembra quando de ti te esqueces
quando mais alucinas que te falta -
vagamos pelas torpes vielas, acendemos
nos baixios nossas mínimas luzes,
e o tédio, o tédio , se deixarmos,
nos entope insuportável as goelas -
mas o amor,
o amor é quando se cala,
quando nossos egos se rendem
e olha que a vida em sua chama
- tempus fugit - pelo amor se dissipa mais lenta,
se incorpora mais bela -
amor é quando abrimos os olhos
e vemos, em seus jardins,
desdobrarem -se os céus
no detalhe.
Fernando Campanella
Pedido de casamento
Eu sei que a gente ia ser feliz juntinho
Pra todo dia dividir carinho
Tenho certeza de que daria certo
Eu e você, você e eu por perto
Eu só queria ter o nosso cantinho
Meu corpo junto ao seu mais um pouquinho
Tenho certeza de que daria certo
Nós dois sozinhos num lugar deserto
Se você não quiser
Me viro como der
Mas se quiser me diga, por favor
Pois se você quiser
Me viro como for
Para que seja bom como já é
Eu sei que eu ia te fazer feliz
Dos pés até a ponta do nariz
Da beira da orelha ao fim do mundo
Sugando o sangue de cada segundo
Te dou um filho, te componho um hino
O que você quiser saber eu ensino
Te dou amor enquanto eu te amar
Prometo te deixar quando acabar
Arnaldo Antunes
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
O amor que o vento levou
Olá amor que o vento levou. Sei que andas por aí. Se passares pelo vento, não sejas descuidada, ouve as palavras de tristeza que eu lhe implorei para te oferecer quando passasses por ele. E se, por mero acaso, sentires uma chuva miudinha molhar-te os cabelos, lembra-te que são as lágrimas que estes olhos despiram às mágoas que eu sei que tu não sentes, porque fizeste da tua vida um recado de fronteiras desconhecidas. São muitas as memórias que ouço nas calçadas das ruas, quando sou um vadio da noite. Ouço os teus saltinhos ligeiros, rompendo os ritmos da noite para me contarem a paixão que se desprendia dos teus olhos sorridentes. Era quando eu sentia que a coragem de viver era um risco sem reclusão. Eu sei que o vento te conhece. Eu sei que o vento me conhece. Porque será que nos deixámos de conhecer? Há uma tristeza que não se controla quando o corpo sente que é um passado de um futuro que nunca mais nasce. Quando olho as montras e descubro, em certas roupas, o teu corpo, imagino o prazer de uma delicadeza que se revelava em mim, quando te vestia as roupas que compravas, entre as gargalhadas de um humor infantil e o prazer que se libertava dos corpos nus. Éramos dois clarões de uma tempestade que pacificava o tempo. Tenho dias que ouço o riso estridente das memórias que não simpatizam comigo. São sons que combato com a música que nascem nos candeeiros das minhas fugas à realidade. Será que me ouves, ó vento? Tenho um coração de cavalos que galopam e relincham de liberdade por sentirem que o ar que respiram é o arfar deste amor que te revelo para espalhares pelo mundo que sabe por onde anda o corpo, doce e terno, que se enrola comigo em sonhos que qualquer sombra do tempo recolhe como um tesouro que ninguém descobrirá. Há noites que sinto que os nossos corpos nus dançam danças que só a nossa cama compreende, porque é o nevoeiro de uma esperança perdida que se encontra na aurora de toda uma vida por viver.
Olá vento, diz-me como se ama o amor que eu amo e que se perdeu na vaga do vento, que sopraste num dia, em que eu me esqueci de ser quem fui. Ouve, ó vento, que passas por mim, diz-lhe, se a vires, que mesmo que o tempo me escureça, eu lutarei, eternamente, para ser a luz que lhe falta, se ela não se tiver perdido na noite de outro dia.
Jorge Brasil Mesquita
Gosto quando te calas
Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.
Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.
Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.
Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.
Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.
Pablo Neruda
domingo, 22 de novembro de 2009
sábado, 21 de novembro de 2009
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
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